Cada anoitecer marca um dia meio vivido
Cada meia noite é um vazio inteiro
Desinventaram a polifonia
O estéreo do som
É o presente engolido pelo futuro do pretérito composto
Pretérito composto, presente singular
Eu, vivo, nesse meio tempo
Cada anoitecer marca um dia meio vivido
Cada meia noite é um vazio inteiro
Desinventaram a polifonia
O estéreo do som
É o presente engolido pelo futuro do pretérito composto
Pretérito composto, presente singular
Eu, vivo, nesse meio tempo
Estão por toda parte, incontáveis e com o mesmo sabor de ausência. Umas doces, outras salgadas. Estão nas gavetas, fibras de celulose, códigos binários. Perfumes, lágrimas, suor. O mesmo sabor de ausência. São incontáveis e com o mesmo sabor de quase, cheiro de ontem. São de tinta, de madeira, de algodão. São de sonhos, de erros e de acertos. Estão por toda parte, inevitáveis e implacáveis. Têm a forma da janela do carro, cheiro de rodoviária. Têm a textura da pele onde a lágrima, o suor e a terra se encontraram ao sol da tarde e ao vento seco. São implacáveis e com o mesmo sabor de ausência. Estão na cadeira vazia, na cama ora espaçosa, no silêncio novo. Doces e salgadas. Estão embaixo da terra, levadas pela água do banho gelado. Nas folhas do ipê sobre a grama quase morta. Nas centenas de pares de olhos escritos em luz. São impressões digitais nas teclas e superfícies do cotidiano. Fonogramas do ídolo. Melodias com valor emprestado por momentos vividos. São feridas abertas pelo arrancar das raízes. Testemunhas de uma eternidade finda.
Entrementes… sou outrora.
Ah! se eu pudesse faria
Aí você não mais diria
que não há uma canção
que te chame pelo nome
E quanto melhor seria
te contar com melodia
e dedilhar no violão
essa dor que me consome
(Três anos depois)
Começa quando o sentimento de que nada mais pode ser feito vence o desejo de evitá-la. Culmina em um misto amargo de autocrítica, arrependimento, culpa, crise existencial, busca de novos horizontes e fé facilmente abalável em dias melhores. Nem sempre termina.
É triste subtrair.
O quanto um lugar pode ser bom ou ruim,
O quanto o amor pode construir ou destruir.
Como é indiferente estar ou não com a razão,
E como a vida ganha e perde sentido tão de repente.
Arrancam-se as raízes.
Entrementes, sangro.
teu sopro mais singelo
fez cair meu castelo
perdi de vez o chão
areia falsa
ganhei os ares e hoje vivo num balão
guiado pelo sopro
aquele mesmo
brisa de primavera
a vista de cima é bela
mas às vezes dá vertigens
eu
ave migratória
você
estação.
tiagofranz
Pessoas,
Entrementes tenho dado um tempo com este blog.
O meu eu sujeito está em paz (no amor, na saúde física e mental, nos sonhos…), mas o meu eu cidadão do mundo anda bastante ocupado.
Tenho me dedicado ao blog NeoIluminismo, sobre ativismo político-social.
Não desistam de lembrar deste blog sempre que puderem.
Um dia ele voltará, mesmo que eu continue em paz.
tiagofranz
Nosso amor é uma canção
ainda na introdução.
Notas leves te desenham
num contorno gracioso.
Os acordes dão o tom
de um destino caprichoso.
A canção do nosso amor
é uma singela canção a dois.
Dos teus olhos terá o brilho,
do encontro das mãos a harmonia.
Um belo duo será o estribilho
de uma doce melodia.
Escreves a letra comigo
com um toque de improviso.
Em cada verso eu me entrego.
Tu sabes que eu te preciso.
Procuro esquecer meu ego,
ser o teu melhor amigo,
te buscar no meu sufoco
e me encontrar no teu sorriso.
E não deixe de me acompanhar num solo,
pois se o teu momento antes chegar
eu te faço o fundo,
como quem dá colo.
tiagofranz
Vou levando
Mais pra cigarra do que pra formiga
Canto já que danço mal
E nunca acerto o ritmo da dança
Muitos passos pra lá e poucos pra cá
E rápido demais.
Quero cantar e só.
Cantar o amor que me reconcilia com o mundo
E que me faz não mais querer cantar a vida ilhada.
Minha ilha
Um tanto menos deserta
É menor o sufoco da enchente quando se está acompanhado
Ora faz sol
Ora a água bate no pescoço.
Quero cantar minha condição de cantor de mim mesmo
E dos meus.
tiagofranz
Nunca sabe os horários, mas corre para pegar o primeiro ônibus. Detesta os longos minutos de espera pelo próximo a passar no ponto. Tecla alguns botões e, por fim, Enviar.
No quarto ela seca o cabelo. A mensagem dá a previsão: vinte minutos, mais ou menos.
Tem a noite inteira mas apressa o passo. Mais dois quarteirões até o prédio. Sempre pula os degraus da entrada. Um toque curto no interfone. No segundo lance de escadas o barulho das chaves. O sorriso tão ansiado e o beijo que não espera o fechar da porta.
tiagofranz